Ele só queria poder morrer.
Tudo aquilo ainda era muito confuso. Não entendia o mundo onde estava, e sequer entendia porquê estava no mundo. A única coisa que sabia era que queria (não simplesmente queria, precisava) morrer.
Tinha sido expulso de seu verso havia um bom tempo, mas só recentemente entendera a razão de sua punição.
O lugar de onde viera pertencia a uma gama de pensamento pouco explorada pelo homem, chegando até a ser encarado como tolice um estudo profundo dessa realidade por algumas pessoas. Ele vinha daquilo que o homem chamava de "Sonho".
Agora que estava no verso humano da realidade, lembrar de seu lar feria sua mente de forma lancinante. Ele estava aos poucos adaptando sua mente a sua nova realidade, e lembrar-se de casa era algo que já se via incapaz de fazer.
Não era somente a memória que lhe trazia dor, tudo em seu novo ser era de alguma forma alienígena para si, e o "viver" era suficiente para que sentisse terríveis dores todos os dias.
Viu que seria eternamente incapaz de entender como os humanos viviam com tudo aquilo. O respirar era torturante, pois ele sentia o corpo inflamar-se por dentro quando enviava ar para dentro os pulmões. Comer parecia degradante, pois atacava seu próprio organismo com matérias estranhas ao mesmo. Para aumentar sua confusão, todas essas torturas causavam júbilo ao corpo, pois o próprio precisava desses auto-ataques para sobreviver.
Já tentara desistir disto, de comer, de respirar, para ver se conseguiria atingir ao tão desejado estado de morte que procurava. Mas a dor que encontrou ao abandonar as necessidades do corpo era pior do que a de satisfazê-las, e optou por perpetuar o ciclo de auto-tortura humano.
O que mais lhe incomodava, e que demorara mais tempo para se adaptar, era a visão. Infinitas agulhas de luz penetravam-lhe pelos olhos entregando a mente uma imagem imutável do mundo. Um mundo horrível, onde nada se alterava rápido ou por conta própria, indo completamente contra a realidade na qual vivera até então.
Dias após dias sentava-se em algum lugar e se colocava a estudar as pessoas. Não entendia como eram capazes de assimilar tantas dores, tantos sentimentos, tantas idéias, e agir como se nada estivesse lhes afligindo. Beirava o irracional, e ao perceber que temia perder sua racionalidade, percebeu o quão humano estava se tornando.
Ele temia.
Com o passar do tempo, viu que seu maior temor não era deixar de ser humano, mas sim tornar-se um. Percebeu o quanto humanos esforçavam-se para serem iguais, vivendo vidas pré-forjadas sem preocupar-se em criar um propósito próprio para suas simplistas existências.
Ele viu que se temia algo, era tornar-se banal, como os humanos faziam questão de ser.
Achava mais confusa ainda a idéia de individualidade que o humano pregava ter. Todos acreditavam ser "únicos", e que "viviam" suas vidas aproveitando o máximo possível. Muitos viam que desperdiçavam suas vidas em tramas ridículas. Mas mesmo aqueles que acreditavam viver não o faziam. No fim, todos já estavam mortos.
Foi quando percebeu, que o que mais queria, era na verdade seu maior medo.
A morte.
Todos os humanos já estavam mortos. Suas mentes fúteis e vazias não deixariam nada para o futuro. Suas idéias tolas os levavam a acreditar que viviam, mas na verdade simplesmente existiam.
Viu, que se queria mostrar a aqueles que o puniram e expulsaram de seu lar que sua idéia era a correta, que a sua crença era a efetiva, a última coisa que deveria fazer era morrer.
Naquele dia, o "Pesadelo" havia acordado querendo morrer.
Agora, ele queria viver para sempre. E já sabia como fazê-lo.
Só faltava tornar-se capaz.
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2 comentários:
Você tem em mãos uma otima
materia prima...
tudo é questao de desenvolvimento..
Abraço!
te devo uma bala xD
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