O “Demônio” ergueu-se esfregando lentamente os olhos contra o ardor que os invadia ao abri-los. Ainda não se acostumara a cacofonia de cores que invadia sua mente quando acordava, no “Inferno”, não havia cores e nem formas. Sequer havia o tão limitado conceito de palavras para definir coisas, conceito no qual muitos humanos baseavam toda sua vida.
Ainda estava se acostumando a aquilo que era nesta realidade limitada e mortal na qual acabara de começar a viver. Entendera que para os padrões humanos, as palavras que deveria usar para se descrever significavam coisas terríveis dentre os homens, (palavras como Demônio e Diabo). Percebeu também que, de acordo com os padrões e crenças humanas, sua realidade natal chamava-se “Inferno”, lugar onde os humanos acreditavam que servia de abrigo às almas das pessoas “más”.
Um detalhe que o perturbava era o fato de que muitas pessoas limitavam o mundo a esses dois estranhos e incômodos fatores de existência, o “Bem” e o “Mal”. Nem se preocupavam em cogitar que o mundo talvez fosse muito mais que isso, e que talvez sequer existisse uma guerra entre estes eixos de realidade.
Tomou uma longa golfada de ar (algo que julgava nunca se tornaria um hábito), e caminhou em direção a janela para receber os primeiros raios de Sol do dia. O calor matinal o agradava de forma “engraçada” (eis a palavra!). Sentia-se incomodado ao ver que os homens acreditavam no “Inferno” como um lugar quente, assim como a superfície do Sol. A letargia constante e insanidade que tomavam aquela realidade faziam com que a sensação do ambiente se aproximasse mais daquilo que os mortais chamam de “Frio”.
Após receber os primeiros raios da estrela matutina que despontava a leste, caminhou para dentro de sua casa, percebendo muitos outros detalhes aos quais nunca se acostumaria nessa existência. Nunca se acostumaria a “sentir” o chão sob seus pés, a “ouvir” o vento passando por suas orelhas a cada passo, a ”ver” formas e cores no mundo, ao estranho “sabor” em sua boca constante em todas as manhãs, por fim, nunca se acostumaria a viver...
Enquanto banhava-se, pensava o quão confusa era aquela existência que passara a habitar, e o quão cômica era a imagem que os humanos tinham dele e de todos os outros seres que habitavam o Multiverso (seria a palavra ideal para a realidade de tudo pensara, pois as pessoas acreditavam que tudo se resumia a um único “Verso” de realidade, chamando a existência como um todo de “Universo”). Pensava ainda mais o quanto perturbaria a mente de um homem saber que um ser como ele, um “Demônio”, também se perturbava.
Caminhou pela casa e serviu-se de pouco de whisky. Finalmente, com sua existência Terrena, compreendera por que tantos homens atingiam a total banalidade por culpa do álcool. Podia ter efeitos sublimes, mas também devastadores.
Sentou-se ao sofá, e se permitiu alguns momentos de mente vazia, sem sequer um pensamento útil ou grandioso. Queria saber como a maioria dos humanos se sentia em quase todos os dias de suas vidas.
Caminhou para sua escrivaninha, abriu um livro em branco e tomou uma caneta, pensando em transcrever tudo aquilo em que todo homem deveria pensar, mas sempre que pensava tomava como tolice.
Por fim, viu que fazia aquilo que todo homem acreditava sem saber, ser o trabalho de um “Demônio”.
Pensava alem das fronteiras, cogitava alem do imaginável, transformava os padrões de pensamento em algo totalmente novo para a mente humana, que seria tomado por insanidade, mas deveria ser tido como verdade desde sempre.
Fazia algo que somente homens, em todo o Multiverso são capazes de fazer, mas sempre dão como o trabalho de “Demônios”...
Filosofava.
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Um comentário:
Primeiro comentário! \o/ Eu ainda espero que esse texto tenha uma continuação, tem umas coisas bem ineterssantes aí (ok, eu gosto do seu jeito de escrever xD).. Só não me pergunte por que eu demorei tanto pra comentar... Boa sorte com o blog
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