Qual é a coisa que você mais odeia no mundo? Você sabe, aquilo que faz com que seu estômago desista de funcionar quando você pensa a respeito. Aquilo que faz com que a respiração pareça mais difícil, e faz com que você se lembre que por pior que tudo pareça, há um motivo para a vida no mundo.
Pois você odeia algo.
Você entende o que eu quero dizer com ódio certo?
Não, talvez você não saiba.
Eu não me refiro ao incomodo que você sente quando vê aquele ser que não gosta, não me refiro ao desejo breve de matar quando lhe provocam, ou até mesmo ao sentimento de resposta que se sente quando as coisas acontecem de forma oposta a aquilo que se espera.
Não, não é disso que eu falo.
Eu falo do sentimento que lhe leva a desejar plenamente a dor ao outro. Eu falo dá idéia de que a única função da sua existência é frustrar a vida daquele ser. Eu falo da noção absoluta de que algo não merece o ar em que se sustenta. E da alegria que você sente ao saber que é recíproco.
Por isso que eu gosto do ódio, quando você o sente direito, sempre sentem ele de volta.
É como o amor, só que você não precisa implorar a nada para que seja recíproco. É a certeza de saber que enquanto você pensa no seu alvo, ele também está pensando em você. Seja para lhe destruir ou machucar.
E me é engraçado ver como vocês acreditam no ódio como algo simples, que basta ser sentido.
Ódio não é ódio se não for consumado.
Raiva, fúria, rancor, desejo de vingança... Há uma infinidade de idéias que expressam bem isso que você sente, mas se você não consuma, não pode chamar de ódio.
Então você não odeia nada... Que pena.
Se eu odeio algo? Sim, odeio. E posso dizer isso pois ao estar aqui, sentado com você, lhe contando que eu acredito que o ódio é mais forte e potente do que qualquer outra coisa que pode haver, eu consumo meu ódio.
Como, é complicado, mas eu lhe explico.
Imagine um ser cuja maior alegria, é ver-lhe feliz. Tudo que você faz para se aprazer-se também traz gozo a este ser, e o maior objetivo da vida dele é ver-lhe bem.
Não, não como um amante, como um parasita.Um parasita conhece plenamente seus maiores desejos, e faz de tudo para que você próprio se guie a realização deles.
Por algum motivo que lhe foge a própria razão, você se incomoda por ver outro ser querendo-lhe bem.
E só há uma forma de machucar algo que lhe quer tão bem. Machucando a si.
Mas como eu já lhe disse, o ódio é recíproco.
Se destrua, e assim como esse parasita de deliciava em ver-lhe feliz, se deliciara o dobro ao ver-lhe sofrer.
Sabe, há algo pior que a alegria ou a tristeza, é a linha que divide os dois. Justamente o ponto onde eu tomo o cuidado de me manter.
Por que eu odeio esse ser tanto? Não, eu não sei qual a razão.
Por que eu me empenho tanto nisso? Também não sei o por que.
Não, não seria mais simples matá-lo, é o que ele quer, e não se dá a um inimigo o que ele quer não é.
Como ele é?
Não sei, nunca pude por os olhos nele. Eu só o ouço...
Louco, eu?
Pelo visto, você realmente não ouviu nada...
Você não odeia ninguém não é? É uma pena...
terça-feira, 29 de julho de 2008
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
Zeitlos
Ele só queria poder morrer.
Tudo aquilo ainda era muito confuso. Não entendia o mundo onde estava, e sequer entendia porquê estava no mundo. A única coisa que sabia era que queria (não simplesmente queria, precisava) morrer.
Tinha sido expulso de seu verso havia um bom tempo, mas só recentemente entendera a razão de sua punição.
O lugar de onde viera pertencia a uma gama de pensamento pouco explorada pelo homem, chegando até a ser encarado como tolice um estudo profundo dessa realidade por algumas pessoas. Ele vinha daquilo que o homem chamava de "Sonho".
Agora que estava no verso humano da realidade, lembrar de seu lar feria sua mente de forma lancinante. Ele estava aos poucos adaptando sua mente a sua nova realidade, e lembrar-se de casa era algo que já se via incapaz de fazer.
Não era somente a memória que lhe trazia dor, tudo em seu novo ser era de alguma forma alienígena para si, e o "viver" era suficiente para que sentisse terríveis dores todos os dias.
Viu que seria eternamente incapaz de entender como os humanos viviam com tudo aquilo. O respirar era torturante, pois ele sentia o corpo inflamar-se por dentro quando enviava ar para dentro os pulmões. Comer parecia degradante, pois atacava seu próprio organismo com matérias estranhas ao mesmo. Para aumentar sua confusão, todas essas torturas causavam júbilo ao corpo, pois o próprio precisava desses auto-ataques para sobreviver.
Já tentara desistir disto, de comer, de respirar, para ver se conseguiria atingir ao tão desejado estado de morte que procurava. Mas a dor que encontrou ao abandonar as necessidades do corpo era pior do que a de satisfazê-las, e optou por perpetuar o ciclo de auto-tortura humano.
O que mais lhe incomodava, e que demorara mais tempo para se adaptar, era a visão. Infinitas agulhas de luz penetravam-lhe pelos olhos entregando a mente uma imagem imutável do mundo. Um mundo horrível, onde nada se alterava rápido ou por conta própria, indo completamente contra a realidade na qual vivera até então.
Dias após dias sentava-se em algum lugar e se colocava a estudar as pessoas. Não entendia como eram capazes de assimilar tantas dores, tantos sentimentos, tantas idéias, e agir como se nada estivesse lhes afligindo. Beirava o irracional, e ao perceber que temia perder sua racionalidade, percebeu o quão humano estava se tornando.
Ele temia.
Com o passar do tempo, viu que seu maior temor não era deixar de ser humano, mas sim tornar-se um. Percebeu o quanto humanos esforçavam-se para serem iguais, vivendo vidas pré-forjadas sem preocupar-se em criar um propósito próprio para suas simplistas existências.
Ele viu que se temia algo, era tornar-se banal, como os humanos faziam questão de ser.
Achava mais confusa ainda a idéia de individualidade que o humano pregava ter. Todos acreditavam ser "únicos", e que "viviam" suas vidas aproveitando o máximo possível. Muitos viam que desperdiçavam suas vidas em tramas ridículas. Mas mesmo aqueles que acreditavam viver não o faziam. No fim, todos já estavam mortos.
Foi quando percebeu, que o que mais queria, era na verdade seu maior medo.
A morte.
Todos os humanos já estavam mortos. Suas mentes fúteis e vazias não deixariam nada para o futuro. Suas idéias tolas os levavam a acreditar que viviam, mas na verdade simplesmente existiam.
Viu, que se queria mostrar a aqueles que o puniram e expulsaram de seu lar que sua idéia era a correta, que a sua crença era a efetiva, a última coisa que deveria fazer era morrer.
Naquele dia, o "Pesadelo" havia acordado querendo morrer.
Agora, ele queria viver para sempre. E já sabia como fazê-lo.
Só faltava tornar-se capaz.
Tudo aquilo ainda era muito confuso. Não entendia o mundo onde estava, e sequer entendia porquê estava no mundo. A única coisa que sabia era que queria (não simplesmente queria, precisava) morrer.
Tinha sido expulso de seu verso havia um bom tempo, mas só recentemente entendera a razão de sua punição.
O lugar de onde viera pertencia a uma gama de pensamento pouco explorada pelo homem, chegando até a ser encarado como tolice um estudo profundo dessa realidade por algumas pessoas. Ele vinha daquilo que o homem chamava de "Sonho".
Agora que estava no verso humano da realidade, lembrar de seu lar feria sua mente de forma lancinante. Ele estava aos poucos adaptando sua mente a sua nova realidade, e lembrar-se de casa era algo que já se via incapaz de fazer.
Não era somente a memória que lhe trazia dor, tudo em seu novo ser era de alguma forma alienígena para si, e o "viver" era suficiente para que sentisse terríveis dores todos os dias.
Viu que seria eternamente incapaz de entender como os humanos viviam com tudo aquilo. O respirar era torturante, pois ele sentia o corpo inflamar-se por dentro quando enviava ar para dentro os pulmões. Comer parecia degradante, pois atacava seu próprio organismo com matérias estranhas ao mesmo. Para aumentar sua confusão, todas essas torturas causavam júbilo ao corpo, pois o próprio precisava desses auto-ataques para sobreviver.
Já tentara desistir disto, de comer, de respirar, para ver se conseguiria atingir ao tão desejado estado de morte que procurava. Mas a dor que encontrou ao abandonar as necessidades do corpo era pior do que a de satisfazê-las, e optou por perpetuar o ciclo de auto-tortura humano.
O que mais lhe incomodava, e que demorara mais tempo para se adaptar, era a visão. Infinitas agulhas de luz penetravam-lhe pelos olhos entregando a mente uma imagem imutável do mundo. Um mundo horrível, onde nada se alterava rápido ou por conta própria, indo completamente contra a realidade na qual vivera até então.
Dias após dias sentava-se em algum lugar e se colocava a estudar as pessoas. Não entendia como eram capazes de assimilar tantas dores, tantos sentimentos, tantas idéias, e agir como se nada estivesse lhes afligindo. Beirava o irracional, e ao perceber que temia perder sua racionalidade, percebeu o quão humano estava se tornando.
Ele temia.
Com o passar do tempo, viu que seu maior temor não era deixar de ser humano, mas sim tornar-se um. Percebeu o quanto humanos esforçavam-se para serem iguais, vivendo vidas pré-forjadas sem preocupar-se em criar um propósito próprio para suas simplistas existências.
Ele viu que se temia algo, era tornar-se banal, como os humanos faziam questão de ser.
Achava mais confusa ainda a idéia de individualidade que o humano pregava ter. Todos acreditavam ser "únicos", e que "viviam" suas vidas aproveitando o máximo possível. Muitos viam que desperdiçavam suas vidas em tramas ridículas. Mas mesmo aqueles que acreditavam viver não o faziam. No fim, todos já estavam mortos.
Foi quando percebeu, que o que mais queria, era na verdade seu maior medo.
A morte.
Todos os humanos já estavam mortos. Suas mentes fúteis e vazias não deixariam nada para o futuro. Suas idéias tolas os levavam a acreditar que viviam, mas na verdade simplesmente existiam.
Viu, que se queria mostrar a aqueles que o puniram e expulsaram de seu lar que sua idéia era a correta, que a sua crença era a efetiva, a última coisa que deveria fazer era morrer.
Naquele dia, o "Pesadelo" havia acordado querendo morrer.
Agora, ele queria viver para sempre. E já sabia como fazê-lo.
Só faltava tornar-se capaz.
sábado, 2 de fevereiro de 2008
Philosophie
O “Demônio” ergueu-se esfregando lentamente os olhos contra o ardor que os invadia ao abri-los. Ainda não se acostumara a cacofonia de cores que invadia sua mente quando acordava, no “Inferno”, não havia cores e nem formas. Sequer havia o tão limitado conceito de palavras para definir coisas, conceito no qual muitos humanos baseavam toda sua vida.
Ainda estava se acostumando a aquilo que era nesta realidade limitada e mortal na qual acabara de começar a viver. Entendera que para os padrões humanos, as palavras que deveria usar para se descrever significavam coisas terríveis dentre os homens, (palavras como Demônio e Diabo). Percebeu também que, de acordo com os padrões e crenças humanas, sua realidade natal chamava-se “Inferno”, lugar onde os humanos acreditavam que servia de abrigo às almas das pessoas “más”.
Um detalhe que o perturbava era o fato de que muitas pessoas limitavam o mundo a esses dois estranhos e incômodos fatores de existência, o “Bem” e o “Mal”. Nem se preocupavam em cogitar que o mundo talvez fosse muito mais que isso, e que talvez sequer existisse uma guerra entre estes eixos de realidade.
Tomou uma longa golfada de ar (algo que julgava nunca se tornaria um hábito), e caminhou em direção a janela para receber os primeiros raios de Sol do dia. O calor matinal o agradava de forma “engraçada” (eis a palavra!). Sentia-se incomodado ao ver que os homens acreditavam no “Inferno” como um lugar quente, assim como a superfície do Sol. A letargia constante e insanidade que tomavam aquela realidade faziam com que a sensação do ambiente se aproximasse mais daquilo que os mortais chamam de “Frio”.
Após receber os primeiros raios da estrela matutina que despontava a leste, caminhou para dentro de sua casa, percebendo muitos outros detalhes aos quais nunca se acostumaria nessa existência. Nunca se acostumaria a “sentir” o chão sob seus pés, a “ouvir” o vento passando por suas orelhas a cada passo, a ”ver” formas e cores no mundo, ao estranho “sabor” em sua boca constante em todas as manhãs, por fim, nunca se acostumaria a viver...
Enquanto banhava-se, pensava o quão confusa era aquela existência que passara a habitar, e o quão cômica era a imagem que os humanos tinham dele e de todos os outros seres que habitavam o Multiverso (seria a palavra ideal para a realidade de tudo pensara, pois as pessoas acreditavam que tudo se resumia a um único “Verso” de realidade, chamando a existência como um todo de “Universo”). Pensava ainda mais o quanto perturbaria a mente de um homem saber que um ser como ele, um “Demônio”, também se perturbava.
Caminhou pela casa e serviu-se de pouco de whisky. Finalmente, com sua existência Terrena, compreendera por que tantos homens atingiam a total banalidade por culpa do álcool. Podia ter efeitos sublimes, mas também devastadores.
Sentou-se ao sofá, e se permitiu alguns momentos de mente vazia, sem sequer um pensamento útil ou grandioso. Queria saber como a maioria dos humanos se sentia em quase todos os dias de suas vidas.
Caminhou para sua escrivaninha, abriu um livro em branco e tomou uma caneta, pensando em transcrever tudo aquilo em que todo homem deveria pensar, mas sempre que pensava tomava como tolice.
Por fim, viu que fazia aquilo que todo homem acreditava sem saber, ser o trabalho de um “Demônio”.
Pensava alem das fronteiras, cogitava alem do imaginável, transformava os padrões de pensamento em algo totalmente novo para a mente humana, que seria tomado por insanidade, mas deveria ser tido como verdade desde sempre.
Fazia algo que somente homens, em todo o Multiverso são capazes de fazer, mas sempre dão como o trabalho de “Demônios”...
Filosofava.
Ainda estava se acostumando a aquilo que era nesta realidade limitada e mortal na qual acabara de começar a viver. Entendera que para os padrões humanos, as palavras que deveria usar para se descrever significavam coisas terríveis dentre os homens, (palavras como Demônio e Diabo). Percebeu também que, de acordo com os padrões e crenças humanas, sua realidade natal chamava-se “Inferno”, lugar onde os humanos acreditavam que servia de abrigo às almas das pessoas “más”.
Um detalhe que o perturbava era o fato de que muitas pessoas limitavam o mundo a esses dois estranhos e incômodos fatores de existência, o “Bem” e o “Mal”. Nem se preocupavam em cogitar que o mundo talvez fosse muito mais que isso, e que talvez sequer existisse uma guerra entre estes eixos de realidade.
Tomou uma longa golfada de ar (algo que julgava nunca se tornaria um hábito), e caminhou em direção a janela para receber os primeiros raios de Sol do dia. O calor matinal o agradava de forma “engraçada” (eis a palavra!). Sentia-se incomodado ao ver que os homens acreditavam no “Inferno” como um lugar quente, assim como a superfície do Sol. A letargia constante e insanidade que tomavam aquela realidade faziam com que a sensação do ambiente se aproximasse mais daquilo que os mortais chamam de “Frio”.
Após receber os primeiros raios da estrela matutina que despontava a leste, caminhou para dentro de sua casa, percebendo muitos outros detalhes aos quais nunca se acostumaria nessa existência. Nunca se acostumaria a “sentir” o chão sob seus pés, a “ouvir” o vento passando por suas orelhas a cada passo, a ”ver” formas e cores no mundo, ao estranho “sabor” em sua boca constante em todas as manhãs, por fim, nunca se acostumaria a viver...
Enquanto banhava-se, pensava o quão confusa era aquela existência que passara a habitar, e o quão cômica era a imagem que os humanos tinham dele e de todos os outros seres que habitavam o Multiverso (seria a palavra ideal para a realidade de tudo pensara, pois as pessoas acreditavam que tudo se resumia a um único “Verso” de realidade, chamando a existência como um todo de “Universo”). Pensava ainda mais o quanto perturbaria a mente de um homem saber que um ser como ele, um “Demônio”, também se perturbava.
Caminhou pela casa e serviu-se de pouco de whisky. Finalmente, com sua existência Terrena, compreendera por que tantos homens atingiam a total banalidade por culpa do álcool. Podia ter efeitos sublimes, mas também devastadores.
Sentou-se ao sofá, e se permitiu alguns momentos de mente vazia, sem sequer um pensamento útil ou grandioso. Queria saber como a maioria dos humanos se sentia em quase todos os dias de suas vidas.
Caminhou para sua escrivaninha, abriu um livro em branco e tomou uma caneta, pensando em transcrever tudo aquilo em que todo homem deveria pensar, mas sempre que pensava tomava como tolice.
Por fim, viu que fazia aquilo que todo homem acreditava sem saber, ser o trabalho de um “Demônio”.
Pensava alem das fronteiras, cogitava alem do imaginável, transformava os padrões de pensamento em algo totalmente novo para a mente humana, que seria tomado por insanidade, mas deveria ser tido como verdade desde sempre.
Fazia algo que somente homens, em todo o Multiverso são capazes de fazer, mas sempre dão como o trabalho de “Demônios”...
Filosofava.
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